segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lilico


- Sabe onde é a rua Perite ? Ali em Santa Tereza ?

Silêncio...

Como a palma da minha mão (pensei)

- Sei sim !

Fui de moto, devagar, me preparando...

Parei e olhei na direção da minha antiga casa.

Olha lá o pé de manga !Olha a rua das "peladas" depois da escola !
A casa da minha primeira namorada...Meu Deus... tudo diminuiu ! Rs. Eu cresci !

Curioso visitar a infância. Caminhar por entre as lembranças.Olhar as casas e lembrar dos amigos, olhar a rua e brincar de jogo da memória :Mãe da rua, rouba bandeira, carrinho de rolimã... bolinha de gude e finca !

Qual o destino dos personagens da minha vida de garoto ?
Quer saber ?! Vou atrás da minha escola. Saberei chegar ? Estará onde deixei ? Segui. Muito mudou. Cadê a barbearia ? O campinho de futebol ? O rio eu sei. Tá debaixo do asfalto...
avenida sanitária. Enterraram um vivo, vai morrer... já morreu. Seu nome ? ARRUDAS.

Diminuo a velocidade à medida que avanço. O coração faz o contrário.

Não acredito ! Estava no portão. Toco o interfone e me atende uma senhora desconfiada. Motoqueiros sempre são suspeitos ! Rs.

- Desculpe incomodar. Estudei aqui. Há 40 anos !
- Qual era o nome da sua professora ?
- Hãn ? Será que me lembro ? alguns segundos.... Irmã Maria Rita !
- Um momento.

A senhora entrou por um corredor e eu ali. Será ? Surge uma madre baixinha e de hábito tão branco que doeu os olhos. Óculos de armação preta. O contraste era fantástico.

Me encara com um sorriso.

- Irmã Maria Rita ?

- Sou eu.

Não vou traduzir em palavras minha emoção.

- A senhora se lembra de mim ? Alessandro Tocafundo.... aquele menino que quebrou um filtro de barro enorme.... aquele menino que foi esquecido pela empregada e deu o maior trabalho, pois não parava de chorar e gritar pela mãe !

- Desculpe-me, eram muitas crianças e já faz muito tempo né ?

- Claro. Como poderia se lembrar.

No fundo bateu uma frustração. Queria que ela dissesse :

- Nossa como você foi encapetado ! Vivia fazendo arte !

Eu fui um menino dentro do padrão... Bagunça sim... barbárie não ! Ela ficou orgulhosa ao saber que sou Educador . A escola agora é uma creche sob sua direção. Me levou ao pátio. Mais uma vez a nítida sensação de que tudo encolheu ! Rs

Nos despedimos e prometi retornar para fazer umas fotos. Guardar de lembrança.

Tarde quente de novembro. Não tinha sorvete. Daqueles que derretem e lambuzam a mão. Experimentei o passado. Sabor de inocência. Enquanto descia a rua Niquelina em direção a Santa Efigênia, fez-se a metamorfose :

a moto agora é bicicleta !

O vento na cara... secando lágrimas.

Eu pedalava feito menino !

Sorriso largo, aroma de infância.

Meu apelido ? Lilico.

5 comentários:

  1. Fantástico...

    Todo menino carrega um homem, e é claro, todo homem carrega um menino.
    Ainda brincando com as palavras:
    O que se leva da vida é a vida que se leva...

    Que vc leve sempre boas e emocionantes recordações como essa!

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Que texto lindo, professor! voce escreve muito bem!
    eu moro pertinho da rua que voce citou, aqui em santa tereza. :)
    Thais Ribas - (Marista)

    ResponderExcluir
  3. Oi Sherpa!
    Achei muito bonito seu texto, mesmo! Estava "torcendo" para que a Irmã lembrasse de você, sério! hehehe
    Bom, eu ainda não vivi o suficiente para ter esse tipo de experiencia, mas lendo o seu texto me vi claramente no futuro, já mulher feita subindo aquelas escadarias do Sagrado para também mergulhar no passado. (Ô época boa, né!?) Me vi procurando pela Geralda, pelo Jarbas... Agora que estou saindo de lá é que percebi o quanto aquele lugar é bom!!
    Bem, seu blog é muito bom!! Parabéns! Até as "musicas de fundo" que você escolheu, ótimas!!
    Um grande abraço,
    Cecília

    ResponderExcluir
  4. esse é o que eu mais gosto :D

    ResponderExcluir