segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Salas de aula e sincronicidade


Recentemente, meu amigo Zé Luís Braga, postou um artigo em seu blog : sincronismo, sala de aula e as novas gerações, que causou em mim o desejo de revelar meu ponto de vista sobre a questão por ele proposta. O texto abaixo é a transcrição integral do meu comentário.

Sou educador. Há 25 anos estou nessa sala de aula que você descreve e disponho de quadro branco e canetas, além de projetor e computador para apresentações diversas. Posso até não utilizar nada disso, apesar da pressão da escola que nos lembra do investimento pesado que faz em “novas tecnologias”!

A dificuldade de concentração do estudante tem múltiplas origens: da estrutura física da sala de aula a sua desestrutura psíquica. O desinteresse pode ser provocado pela iluminação inadequada do quadro ou simplesmente porque ele não dispõe de vontade para estar ali.

Em sala de aula funciona dessa maneira, mas será diferente em outros ambientes? Vez ou outra não consigo escapar das salas de cinema repletas de jovens. Todos estão diante de uma tela gigantesca, projeção em 3D, som e imagem de última geração, o filme mais esperado do ano por eles. Logo, a sala deve manter-se em silêncio absoluto, ninguém atende o celular, levanta para comprar pipoca ou vai ao banheiro. Não. Diante de um espetáculo ganhador de vários prêmios, muitos falam ao celular, enviam e recebem sms, conversam, dispersam e por aí vai.

Solução? Mudar para o modo assíncrono! Ainda sobre os filmes, vejamos: espero o lançamento do DVD ou vou ali no Shopping Oiapoque e descolo uma cópia pirata. Vou para casa, assisto quando puder, quiser, com uma bacia de pipoca no colo, derramando coca-cola no tapete, pausa, falo horas ao celular, play, pauso novamente, mando um torpedo para os amigos dizendo que estou naquele momento do filme em que (…) Dou play de novo. O filme de uma hora e meia durou toda a tarde, no meu ritmo, do meu jeito.

EDUCAÇÃO pressupõe entender que o mundo não orbita seu umbigo! Que viver em sociedade é RESPEITAR o espaço dos demais e que DISCIPLINA é abrir mão de desejos pessoais quando isso favorece a convivência e a harmonia da coletividade.

Entre dois seres humanos, sincronicidade é palavra de ordem! É preciso investimento pesado em estratégias que permitam que o professor tenha tempo para conectar-se às demandas mais elementares desses “novos alunos” e ao meu ver a principal delas é: afeto. Não conheço software que faça isso por mim. Quem senta diante de um educador precisa estar disposto a ouvir, a se deslumbrar com a palavra e com o gesto. E se isso tem hora marcada para começar e para terminar, paciência. Esta precisa ser revista com urgência. O ambiente de sala de aula apenas reflete o que vivemos em outras instâncias. Nas repartições públicas, no trânsito, no comércio. Eu e minhas demandas: danem-se os outros. É A ASSINCRONIA FAMILIAR REPERCUTINDO EM TODA A SOCIEDADE. O filho quer atenção e ganha um celular de última geração. A dificuldade imposta pela sicronicidade é que as partes envolvidas precisam respeitar o momento do outro, controlar o desejo de impor a sua vontade e acolher uma demanda que não é a sua, mas é legítima e tem o mesmo valor.

Zé, entenda-me: quero esse “novo aluno” perto de mim. O educando é capaz de aprender biologia, matéria que leciono, no mundo virtual, nos livros e até comigo! Mas o que tenho a dizer, o que ele precisa ouvir e aprender, isso, meu amigo, essa oportunidade nenhum de nós pode perder, sob pena de estarmos fomentando uma sociedade individualista, altamente tecnológica e pouco provida do essencial: humanidade.